quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Por muito menos ....

"Por muito menos" escreve a leitora M.Z. da Veja de 8 de agosto " uma cidadã comum como eu, seria presa",

Me identifico plenamente com os reclamos de M.Z. .... Comungo com seus sentimentos e sua indignação. Contudo, não consigo deixar de refletir sobre o que, no fundo, é uma certa ingenuidade de sua visão do mundo político.

Um documentário na TV, sobre a Turquia medieval, refere que um certo sultão recém empossado, com receio de possíveis ambições e manobras de seus irmãos, emitiu um decreto que permitia ao sultão assassinar os seus irmãos, se representassem um perigo a seu governo. No dia seguinte, executou todos os seus irmãos. Moral desta história : a tentação é muito grande, para o homem no poder, legislar em benefício próprio.

E os políticos entrincheirados no poder se valem de sua posição para criar leis e tramites que os protegem e tornam seus crimes impunes.

Melhor do que tentar comentar o assunto, prefiro transcrever um trecho de um artigo-panfleto escrito por M. Bakunin sobre o assunto, na segunda metade do século XIX, portanto não tem nada de muito novo, neste campo ....

"O crime é o privilégio do Estado. O que é permitido ao Estado, é proibido ao indivíduo. Esta é a máxima de todos os governos. Machiavelli disse que ... o crime é a condição necessária da própria existência do Estado e portanto constitui seu monopólio exclusivo. Donde segue que o indivíduo que comete um crime é duplamente culpado : primeiro, contra a consciência humana, e novamente e sobretudo, culpado contra o Estado, por se arrogar de um de seus mais preciosos privilégios."

Um comentário:

Antônio disse...

Sensacional o último parágrafo de sua postagem. Muito esclarecedor e impossível de ser contestado. Não sei se esse Machiavelli é o próprio Maquiavel...Só pode ser. Peço licença para enviar seu texto para muitos.