terça-feira, 23 de outubro de 2007

Há cultura ... e cultura

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Como toda palavra, a palavra cultura é algo muito traiçoeiro.

Cultura pode ser simplesmente o status quo cultural de uma região ou época ou grupo (como quem diz, a cultura da Namíbia, ou a cultura do século XVI ou a cultura interna da General Motors).

Cultura pode significar o apanágio de desenvolvimento e avanço cultural. Quando se diz : Fulano é um homem de cultura, a gente quer dizer que fulano é uma pessoa de grande erudição, saber, preparo pessoal, alguém superior, alguém interessado nas coisas do intelecto e do espírito.

Cultura pode tambem ser cultura popular. Algo que surge espontaneamente do povo, normalmente das camadas menos desenvolvidas ou educadas, que se manifesta em costumes, tradições, culinária e artesanato, principalmente no grosso mesmo da população ... e tambem em formas variadas de artes, musicais ou plásticas, caracteristicamente por artistas (legítimos) mas sem formação acadêmica. Mas não é cultura de vanguarda, embora, por provir das profundezas da alma de um povo, o define de forma bastante peculiar e lhe dá suas características únicas e diferenciadoras de outros povos.

Assim como não é de vanguarda a cultura de massa. Hoje bastante globalizada, a cultura de massa é promovida pela assim chamada "indústria cultural", a indústria de comunicação de massa (televisão, rádio, jornais, revistas, livros de sucesso, etc ...). A indústria cultural está interressada em audiência (que se transforma em lucro) e portanto, vai dar ao seu público, o que o público quer ver, ler, etc ... na maioria das vezes, um monte de banalidades de fácil absorção, violência, sexo gratuito, esperança fácil, .... e entorpecimento garantido. Não deixa de ser uma cultura "popular", já no sentido de popularidade.

As vezes, cultura popular e cultura de massa se mesclam num pacto um tanto preocupante (para não dizer sinistro em suas consequencias), para manter o avanço cultural em cheque. Qualquer pessoa do mundo acadêmico deveria sentir calafrio ao observar o que está acontecendo em termos de retrocesso cultural.

Seremos apenas joguete nas mãos dos Deuses?

Recuperado de um blog anterior

Os propósitos da Vida ... Os árabes dizem que o que está escrito (maktub) será cumprido ... Não há nada que possamos fazer para mudar certas coisas.

Sendo um bom e incorrigível mediterraneo, acredito piamente no fadário (no Destino, se v. quiser assim chamá-lo.). Não somente no Destino dramático que nos impõe as circunstancias ou a duração de nossas vidas, mas tambem e sobretudo o Destino que nos fez como somos feitos, com nosso potencial "ergométrico" máximo, o tipo de corpo, as suas propensões a certas doenças, a nossa força muscular, o nosso QI, nossa capacidade emotiva ou artística, a nossa aptidão volitiva, a nossa energia pessoal, o nosso magnetismo pessoal ou animal, o nosso sex-appeal, etc ... tudo aquilo que enfim, nos define, como "indivíduo". Se seremos um gênio ou um bandido, já está escrito em nossos genes! Depois de tantas coisas definidas por nós, onde fica nossa liberdade e o nosso livre arbítrio?

De uma certa maneira, o cristianismo perpetua e reforça esta filosofia. Não foi São Paulo quem disse que apenas as nossas boas açoes não poderão nos abrir as Portas do Céu e que somente a Graça poderá nos salvar? Pois bem, a Graça que o Céu nos deu ou nos negou, nada mais é que o Destino dos antigos gregos.

Pouco podemos fazer para realmente mudar estas coisas. Se v. tem um corpo frágil, então v. terá um corpo frágil para o resto de sua vida. V. pode tomar vitaminas ou fazer exercícios para minimizar o problema, mas a realidade concreta é que v. continuará tendo um corpo frágil.

Ninguém conseguiu mudar ou aumentar seu próprio QI. A pessoa pode usar sua inteligência para adquirir cultura e erudição, pode se tornar um expert em uma ciência qualquer, mas não pode aumentar seu QI. Ser inteligente não é um mérito .... é apenas um acidente da sorte com que alguém foi agraciado!

Há pessoas que não conseguem se envolver emocionalmente ou sentir compaixão, podem até mudar suas atitudes pra serem socialmente mais aceitáveis, mas dificilmente irão conseguir gerar o momentum interno espontaneo e intenso de uma verdadeira e legítima emoção. Faltou-lhes a Graça!

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Seremos apenas joguete nas mãos dos Deuses?

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Coincidentia opositorum (2)


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Agora, começa a parte mais intricada.
Cada religião deu sua própria interpretação. Com nomes diferentes, é claro.Para algumas, o Algo estava dentro do Nada (imanência) e para outras, o Algo estava fora do Nada ou era o próprio Nada.
Depois da Criação, as vezes, vemos Deus (o nome que genericamente damos para o Algo) permanecer junto com sua Criação. Outras vezes, Ele se afasta ou se oculta (Deus otiosus).
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As Polaridades se manifestam de inumeras maneiras. Pode ser do tipo Yin-Yang, onde elas simplesmente co-existem e compõem o Universo. Mas as vezes, são opostos irreconciliáveis como Luz e Trevas, Bem e Mal, Positivo e Negativo, etc ...
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As Polaridades, em outras ocasiões, são denominados Filhos de Deus, que ele cria no processo. Frequentemente, dois irmãos. As vezes, complementares, uma espécie de divisão do trabalho, um cuida de algumas coisas, outro cuida de outras. Mais comumente, são irmãos antagonistas, trabalhando um para destruir o outro. O caso típico de uma Divindade do Bem, e outra Divindade do Mal.
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As vezes, são estes irmãos que cuidam de ultimar a Criação, e neste caso, são conhecidos ou reconhecidos como Deus (ou como Demônio) pelos homens.Ocorre as vezes, ainda, que estes irmãos se alternam no comando do Universo, ora um, por muitos eons; ora, o outro. Da mesma forma, o irmão reinante passa a ser alternativamente adotado como Deus.
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Um caso particular, desta última instância é existirem, patentemente, uma série de religiões arqueológicas que adotavam uma Deusa-Mãe, (religiões assim ditas femininas) que nos tempos históricos, foram suplantantadas pelas religiões masculinas ou marciais.
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O que a gente deduz deste breve resumo da história das religiões .... é que não dá para deduzir nada, a não ser que existem Opostos neste Mundo e que parecem ser o estofo do Universo.E que portanto, deveríamos ser mais condescendentes com nossos semelhantes quando manifestarem inconsistências .... e até, conosco mesmo, reconhecendo nossos conflitos internos. Já que o Universo é assim, porque não podemos nos perdoar por refletirmos um pouco esta condição.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Coincidentia oppositorum (1)


No começo, bom, no começo, no comecinho de tudo, ninguém (nenhum humano) esteve lá e portanto, no fundo, não sabe nada.


Comecinho quer dizer, antes do tempo. Ou será antes da eternidade, antes do infinito?


Por isto, muitos filósofos dizem que existia o Nada. Contrasenso total, pois, justamente, nada é aquilo que não existe, mas enfim .... eles forem homens de muito estudo e meditação, e portanto vamos ter que dar algum crédito ...

Bom, voltemos ao Começo onde existia o Nada. Para que o mundo se manifestasse, foi preciso, segundo estes filósofos que o Nada se subdividisse (imagine dividir o Nada!) e se criou a Polaridade.

Lindo, a Polaridade se criou sozinha? Ou então, Algo criou a Polaridade? Pois se Algo criou a Polaridade, então não era o Nada que havia no Começo, havia o Algo.

Nos advertem os filósofos e os grandes religiosos que nossa lógica é muito pequenina e não pode abarcar estes conceitos e que a rigor, não tem condições para avaliar/julgar estas coisas. Uma coisa, eu garanto : a minha lógica, definitivamente, não chega lá. Mas vou tentar manter meu espírito aberto ....

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Por muito menos ....

"Por muito menos" escreve a leitora M.Z. da Veja de 8 de agosto " uma cidadã comum como eu, seria presa",

Me identifico plenamente com os reclamos de M.Z. .... Comungo com seus sentimentos e sua indignação. Contudo, não consigo deixar de refletir sobre o que, no fundo, é uma certa ingenuidade de sua visão do mundo político.

Um documentário na TV, sobre a Turquia medieval, refere que um certo sultão recém empossado, com receio de possíveis ambições e manobras de seus irmãos, emitiu um decreto que permitia ao sultão assassinar os seus irmãos, se representassem um perigo a seu governo. No dia seguinte, executou todos os seus irmãos. Moral desta história : a tentação é muito grande, para o homem no poder, legislar em benefício próprio.

E os políticos entrincheirados no poder se valem de sua posição para criar leis e tramites que os protegem e tornam seus crimes impunes.

Melhor do que tentar comentar o assunto, prefiro transcrever um trecho de um artigo-panfleto escrito por M. Bakunin sobre o assunto, na segunda metade do século XIX, portanto não tem nada de muito novo, neste campo ....

"O crime é o privilégio do Estado. O que é permitido ao Estado, é proibido ao indivíduo. Esta é a máxima de todos os governos. Machiavelli disse que ... o crime é a condição necessária da própria existência do Estado e portanto constitui seu monopólio exclusivo. Donde segue que o indivíduo que comete um crime é duplamente culpado : primeiro, contra a consciência humana, e novamente e sobretudo, culpado contra o Estado, por se arrogar de um de seus mais preciosos privilégios."

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Sobre Política ...

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Minha opinião não é propriamente edificante e certamente não elogiosa, nem para a atividade nem para a classe política. De todos os lugares e de todos os tempos, diga-se de passagem. Mas apesar desta afirmação, acho tudo que acontece na política, como perfeitamente natural.
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Vou tentar explicar. Extrai de uma enciclopédia a definição de que a política é "a ciência e a arte do poder". Cito esta definição com bastante ironia : não acho que a política seja uma Ciência digna do nome, e certamente, não tem nada parecido com a sublimidade da Arte. Sim, haverá técnicas (ou melhor dizendo subterfúgios) que se aprendem em corredores, observando os mais velhos ou conseguindo sobreviver .... Mas chamar esta "tecnologia" de ciência e arte, eu diria que é mais uma manobra "política" tentando dar um valor a esta atividade milenar!!
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Mas não resta a menor dúvida que a busca do poder é o objetivo fundamental e primordial dos políticos, e de como consegui-lo e mantê-lo acima de qualquer outra coisa. Não tem a nada a ver com ética, moral ou humanidade. Ou serviço ao povo ou à Nação. A ambição do político não é trabalhar ou lutar para produzir resultados para seu pais. A ambição do político é lutar para se manter no poder.
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Os políticos vivem e sempre viveram do expediente básico de conseguir resultados, independente de moralidade ou coerência (é uma atividade extremamente pragmática a política). Na sua busca de poder, tudo é válido. Crimes, assassinatos, tramóias financeiras, traições, etc .. A História está repleta de exemplos. Obviamente, obter recursos e dinheiro é fundamental para manter e firmar o poder. Outra vez, por quaisquer meios. De preferencia, os mais fáceis> Por exemplo, a corrupção, ao nível político, é muitíssimo comum : basta acompanhar os noticiários políticos internacionais.
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Deturpação ou manipulação de fatos, então, é apenas uma brincadeirinha! Mentir só é errado, se você for pego! Ou não conseguir enrolar! Vale tudo. Até a aparência da honestidade, do trabalho em favor do povo, e inclui sobretudo as promessas de campanhas, as ideologias e os acordos partidários. Nada disto, em si, tem a menor importância, o que importa é quanto vai contribuir para conseguir ou manter o poder. Será esquecido na primeira oportunidade em que se perceber que não vai contribuir para o objetivo fundamental. Promessas de campanha e plataformas partidárias são para angariar votos. Angariou votos, pronto, joga-se no lixo.
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Não estou me referindo a nenhum partido em particular. Vale para todos. Não estou me referindo a nenhum país. Vale para todos. Vale para os quadros das igrejas também, na medida em que se envolvem na política.
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Os que entram na política com boas intenções e não entram na roda, serão rapidamente evictos, retirados do jogo.
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Já me foi dito que existem exceções. Não conheço e eu até me atreveria a dizer que estas exceções são pessoas que disfarçam melhor que a maioria, que conseguem transmitir eficientemente uma imagem positiva e simpática, que tem mais traquejo, que não entram em acordos facilmente porque sabem que seus "aliados" os trairão na primeira oportunidade que lhes for de interesse. Ou se entram em acordos, o fazem de uma maneira que não poderão ser revelados.
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Sim, eu acredito na generalização da canalhice no ambiente político!! Porque, em minha visão, a política é podre em sua base estrutural intrínseca, de por sua própria natureza.
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Agora, resta uma pergunta inteligente que um amigo ponderado me fez : Qual é a alternativa?
Não tenho resposta (ele também não, por sinal) e realmente, não faço idéia. Parece óbvio que os homens precisam de alguma forma de auto-administração para continuar vivendo em sociedade. E que portanto continuaremos a ter governos e políticos.
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Falar em rearmamento moral, que seria uma solução, é muito poético já que a Humanidade está muito longe de ter condições para um progresso moral efetivo.
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Houve uma época em que havia grupos defendendo o anarquismo como sistema de governo (Aurélio = teoria política que preconiza a substituição do Estado pela cooperação de grupos associados.). A primeira vista, isto me parece igualmente ineficaz e duvido que possa funcionar .... a prova é que ninguém conseguiu implantar, até hoje.
Se bem que pela desorganização, alguns governos não ficam muito longe da anarquia! {risos}

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Osho e a oclocracia ....

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Osho é sempre instigante. Nem sempre dá para aceitar suas teorias ou concordar com ele mas ele sempre fornece material para reflexão.

Em um dos seus livros, ele discorre sobre política.

Osho não gosta muito de política .... Ele diz que a maioria dos políticos ainda permanece ao nível instintivo.

E a este nível, "a política não passa de 'a força é o certo' {ou seja} : a lei da selva". {O político instintivo} "não acredita em nada a não ser em ser vitorioso. Sejam quais forem os meios para ser vitorioso, ele usará".

E termina o capítulo, dizendo "O que existe hoje como democracia, não é democracia : é oclocracia ...". Para quem não sabe, como eu também não sabia, oclocracia é o domínio da plebe.

O domínio da ralé e de seus "valores". A valoração da falta de cultura, da falta de instrução e da falta de preparo, o pedestal para o enriquecimento pessoal, não importando os meios para alcançá-lo.

Os valores esdrúxulos, a impunidade do crime "necessário" e da mentira deslavada, e do "me engana que eu gosto", a preponderância da bravata, a predominância do oportunismo sobre o planejamento, a supremacia da bajulação e da demagogia sobre o pensamento correto, etc ...


A História é um repositório impressionante de quantas vezes isto já aconteceu. E vai se repetindo em tudo quanto é lugar neste mundo.

Existe mesmo uma faceta da cultura, profundamente arraigada na humanidade, que prefere ignorar, frequentemente aceita ... e as vezes, até aplaude, tacitamente, a corrupção. É chocante!!! Como dizia um colega de universidade, ficar rico trabalhando, qualquer um consegue ... quero ver ficar rico sem trabalhar!!